Opinião

CBF trata novas cotas da Copa do Brasil e do Nordestão como recorde, mas só fez corrigir a inflação

<p>Foto: Lesley Ribeiro/CBF</p>

Foto: Lesley Ribeiro/CBF

A cada temporada, a CBF tem o costume de ampliar as cotas das suas competições oficiais, à parte do Brasileirão, cujo contrato de transmissão na televisão é bem mais complexo, com negociações individuais entre emissoras e clubes. Nas demais disputas, como a Copa do Brasil e a Copa do Nordeste, por exemplo, toda negociação é feita diretamente pela entidade, ou por uma empresa terceirizada parceira, caso da BRAX. Com os acordos firmados, a CBF sempre se promove na divulgação das novas cotas, tratando como novos recordes. Em 2024 não foi diferente, mas com uma ressalva difícil de esconder.

Em 18 de janeiro, após o sorteio dos grupos da Copa do Nordeste, em Teresina, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, disse o seguinte:

“A Copa do Nordeste é a maior competição regional do Brasil, repleta de clássicos e rivalidades. É uma alegria para a CBF retomar a organização da competição de forma integral desde o ano passado. Em 2024, faremos uma edição ainda melhor e com mais investimentos aos clubes. Serão cerca de R$ 50 milhões destinados diretamente aos times”.

No mesmo mês, mas no dia 30, após o sorteio dos confrontos da Copa do Brasil, no Rio de Janeiro, o mandatário também enalteceu o crescimento econômico da competição nacional. Confira:

“Em 2023 tivemos o recorde de premiação em todas as fases da competição, e em 2024 esse recorde será quebrado. Desde a primeira fase até a finalíssima, são mais receitas para os clubes participantes. E a gente deseja que possam fazer investimentos, principalmente na gestão e na qualificação técnica de seus elementos, para que também possamos ter um recorde de torcedores na Copa do Brasil”.

CBF fatura mais de R$ bilhão por ano

Agora, vamos aos números de fato. No Nordestão, o incremento neste ano foi de cerca de 5%, com a cota total, somando preliminar e fase principal, passando de R$ 46,58 milhões para R$ 48,96 milhões. Oficialmente, a CBF não divulgou os valores da cotas aos times. Fiz a correção a partir do IPCA acumulado no último ano, que foi a única informação efetiva publicada no site oficial. Já na Copa do Brasil o cenário foi mais detalhado. A CBF acertou um aumento exato de 5%, arredondando o índice de 4,62%, apontado por ela como o número base da inflação. Com isso, todas as cotas foram ajustadas – ao todo, 92 clubes receberão premiações.

A menor cota da Copa do Brasil, dada na primeira fase aos clubes abaixo da Série B, subiu de R$ 750 mil para R$ 787 mil. E o máximo possível para o campeão subiu de R$ 91,8 milhões, o valor acumulado pelo São Paulo no ano passado, para R$ 96,3 milhões. Nos dos torneios, os contratos de 2024 dão sequência aos acordos de 2023. A previsão de correção da inflação parece ser o mínimo num cenário econômico minimamente sério. E o ganho real? Aparentemente, não foi colocado no papel durante a negociação tocada pela CBF.

É sempre importante lembrar que a entidade, oficialmente sem fins lucrativos, é uma máquina de gerar receitas. De acordo com o último demonstrativo contábil disponível, referente a 2022, o faturamento da CBF, já presidida por Ednaldo Rodrigues, foi de R$ 1,2 bilhão. Descontando todos os gastos, entre salários, Seleção Brasileira, custeio e investimentos em torneios, a entidade ainda lucrou R$ 143 milhões em doze meses. Ou seja, há recursos. E numa escala alta.

Sem ganho real e sem VAR nos primeiros jogos

Passando pela saúde financeira da CBF, vale ainda outra observação sobre as competições organizadas por ela. Como pode não haver VAR nas fases iniciais dessas competições? Hoje, o custo é de R$ 25 mil por jogo, ou R$ 8 mil a versão “light”. Na Copa do Brasil, a última edição só teve a partida terceira fase. Ou seja, 60 jogos foram negligenciados em termos de tecnologia na arbitragem. Isso daria apenas R$ 1,5 milhão.

Já a edição atual da Lampions segue sem o árbitro de vídeo na fase de grupos, com 64 jogos ao todo – ou R$ 1,6 milhão de custo com VAR. Alguns erros graves foram cometidos já na primeira rodada da Copa do Nordeste, com a CBF, através da sua ouvidoria, respondendo oficialmente ao questionamento sobre a ausência do recurso.

“Em relação a solicitação de utilização do VAR nas partidas, informamos que a implementação da tecnologia depende de uma série de condições técnicas dos estádios onde serão utilizadas, além de homologação dos árbitros a serem escalados. Em um futuro próximo, acreditamos que a implementação da tecnologia em um número maior de jogos possa ser possível”

Esse futuro já deveria ter chegado. Por enquanto, no presente, a continuidade das competições está ocorrendo com cara do passado e com um aumento de apenas 5% nas receitas…