Futebol Feminino
Quem é Debinha: conhecendo uma das maiores artilheiras da Seleção Brasileira de Futebol Feminino

Foto: Thais Magalhães/CBF
Aos 31 anos, Debinha é a terceira maior artilheira da história da Seleção Brasileira Feminina e já foi indicada ao prêmio de Melhor Jogadora do Mundo da FIFA
Em 1991, os moradores da pacata cidade de Brazópolis, no interior de Minas Gerais, hoje com cerca de 14 mil habitantes, mal podiam imaginar que naquele ano viria ao mundo uma de suas filhas mais ilustres. Nascida no dia 20 de outubro daquele ano, Débora Cristiane de Oliveira, mais conhecida como Debinha, é uma das maiores referências do futebol feminino mundial. Terceira maior goleadora da história da Seleção Brasileira Feminina, Debinha é apontada como sucessora natural da rainha Marta, que se encaminha para a aposentadoria.
Entre as peladas com amigos na rua Sete de Setembro e a consagração na equipe principal da Seleção Brasileira, muitas águas rolaram na trajetória de Debinha. O Click Esportivo traz o perfil completo, com os fatos marcantes da vida da atleta, que, entre outros feitos, já foi indicada ao prêmio de melhor jogadora do mundo pela FIFA em 2022.
Você vai saber mais sobre a infância difícil, o preconceito de gênero enfrentado desde cedo, a dificuldade em lidar com a distância da família e os momentos mais importantes da carreira da atacante, que chega à Copa do Mundo 2023 como um dos principais trunfos do Brasil na busca pelo título inédito.
Como Debinha começou no futebol?
A caminhada de Debinha se assemelha à de tantas outras jovens e crianças ao redor do país, que buscam no futebol uma alternativa para dar uma melhor condição de vida à sua família. Na infância, a jogadora já demonstrava uma habilidade diferenciada no trato com a bola nos campinhos de várzea.
O destaque a fez ter contato com o preconceito e a discriminação desde cedo. Com os meninos com quem jogava, era vítima constante de piadas. Já as meninas, julgavam o seu jeito de se vestir.
Por outro lado, Debinha alimentava sua paixão pelo futebol inspirada em sua família e na vizinhança. Em dias de jogos do Brasil, todos se mobilizavam para enfeitar as ruas e acompanhar juntos as partidas.
A brincadeira ganhou ares de seriedade quando foi selecionada numa peneira do Santos, aos 14 anos. Mas a distância da sua cidade natal para a sede do clube, em São Paulo, a fez desistir da oportunidade.
No ano seguinte, em 2007, tomada por um ímpeto de coragem, decidiu encarar o desafio quando foi aprovada na peneira do Saad Esporte Clube, a primeira grande equipe de sua carreira. Seguiu então para São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, para abraçar o seu sonho.
A performance destacada trouxe a chance da atuação internacional. Mas se a mudança de estado foi motivo de dúvidas, a ida a um outro continente trazia uma angústia muito maior, o que fez Debinha desistir de uma proposta no futebol coreano.

Debinha em sua passagem pela Associação Desportiva Centro Olímpico, aos 19 anos (Foto: Pedro Piva/Prefeitura de São Paulo)
Principais clubes e títulos na carreira de Debinha
Após a desistência da Coreia do Sul, Debinha retornou ao Brasil e passou a atuar na Associação Portuguesa de Desportos, onde seguiu por uma temporada. Em 2011, fez uma breve passagem pelo clube paranaense Foz Cataratas. Ainda no mesmo ano, retornou a São Paulo para jogar pela Associação Desportiva Centro Olímpico, entidade vinculada à prefeitura municipal que trabalha na formação de atletas de alto rendimento.
Foi no Centro Olímpico, em 2013, que surgiu uma nova oportunidade de ganhar visibilidade internacional, agora no clube norueguês Avaldsnes IL. Desta vez, a proposta foi aceita por Debinha, contando com outras companheiras brasileiras na equipe para ajudar na adaptação.
Provando que já estava ambientada, Debinha foi a artilheira da temporada 2014 no Avaldsnes e marcou 20 gols. Retornou ao Brasil no mesmo ano, em uma breve passagem por empréstimo ao São José Esporte Clube, onde participou da conquista da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes. Em 2016, foi transferida para o clube chinês Dalian Quanjian, onde conquistou o campeonato nacional daquele ano.
Na temporada seguinte, foi contratada pelo estadunidense North Carolina Courage, equipe em que marcou história e onde atuou por mais tempo na carreira. Foram seis temporadas, com direito a diversas premiações individuais e coletivas.
Durante esse tempo, o North Carolina conquistou duas vezes a National Women’s Soccer League (2018 e 2019), três NSWL Shield (2017, 2018 e 2019), e duas NWSL Challenge Cup (2022). Além disso, Debinha recebeu o prêmio de Melhor Jogadora da NWSL (2019), da NWSL Challenge Cup (2021 e 2022) e a artilharia da NWSL Challenge (2021).
Pela atuação em 2022, foi indicada ao The Best FIFA Football Awards na categoria de Melhor Jogadora. Única finalista representando o Brasil, que não tinha indicações desde 2018, Debinha ficou na sexta posição na classificação geral.
Em janeiro deste ano, o Kansas City Current, também dos Estados Unidos, anunciou a contratação da atacante brasileira, três semanas após sua saída do North Carolina Courage.

Debinha foi destaque na temporada 2019 pelo North Carolina Courage (Foto: Internacional Champions Cup/Divulgação)
Debinha na Seleção Brasileira Feminina
A relação de sucesso de Debinha com a Seleção Brasileira Feminina teve início ainda em 2010, quando participou da Copa do Mundo Sub-20 da FIFA. Na ocasião, a equipe foi eliminada na fase de grupos, mas Debinha marcou dois gols na competição.
No ano seguinte, veio a chance de estrear pelo time principal, na disputa dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. O Brasil conseguiu a medalha de prata no torneio, perdendo a final nos pênaltis para o Canadá, e Debinha alcançou a artilharia com dois gols marcados.
Nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a Seleção Brasileira foi eliminada nas semifinais pela Suécia, com Debinha fazendo uma participação mais discreta. A glória nos anos seguintes, com os dois títulos consecutivos da Copa América, em 2018 e 2022.
A primeira Copa do Mundo foi em 2019, na França, quando o Brasil tropeçou nas oitavas de final contra a seleção anfitriã. Em 2023, Debinha participa de sua segunda Copa do Mundo, trazendo na bagagem a experiência de doze anos desde a primeira convocação.
Os números refletem a importância de Debinha para a Seleção Brasileira Feminina. Em 135 partidas disputadas com a Amarelinha, foram 58 gols marcados, o que a coloca como terceira maior artilheira da história da equipe, logo atrás de Marta (113) e Cristiane (96). Desde a chegada da técnica Pia Sundhage, ninguém marcou mais que a atacante mineira vestindo o uniforme brasileiro. Foram 29 gols em 49 jogos.
Passagem de bastão: Debinha assume o reinado de Marta
Marta é, sem dúvidas, uma das maiores atletas da história do futebol feminino internacional. Eleita por seis vezes no prêmio de Melhor Jogadora do Mundo da FIFA, a Rainha do Futebol anunciou que a Copa do Mundo 2023 será a sua última vestindo o uniforme verde e amarelo. Aos 37 anos, a camisa 10 brasileira encara a sua sexta participação, acumulando o recorde histórico de 17 gols marcados no torneio.
Não apenas pela qualidade técnica ou pelos números inflados, Debinha é vista como uma sucessora da capitã Marta pela postura de liderança dentro e fora de campo. A evidente tendência de crescimento, somada à experiência e maturidade que já possui, colocam Debinha em perfeitas condições para consolidar definitivamente seu nome na história da Seleção Brasileira Feminina e no coração da torcida.